No último domingo, o jornal O Globo divulgou uma lista com os 10 maiores surfistas da história no Brasil. Como não seria de se espantar, o resultado da pesquisa, feita junto a 30 jornalistas especializados que deu origem ao ranking, gerou polêmica. Muito mais pela ausência de diversos nomes de extrema relevância na história do surf do que pela presença dos que lá estavam. Isso significa duas coisas. A primeira, que não há nomes errados na lista. E a segunda, que quando se trata de representatividade e relevância, um top 10 jamais será suficiente para espelhar a realidade. Muito menos a realidade de diferentes contextos de tempo, espaço e oportunidades.

Isso fica claro quando O Globo repercute a polêmica gerada pela ausência de nomes de extrema relevância na construção da história do surf no Brasil. Na segunda matéria sobre o assunto, O Globo expôs todos os nomes que foram mencionados pelos jornalistas consultados. “Um total de 39 surfistas – incluindo homens, mulheres, longboarders, nomes históricos e de ondas grandes – foram citados pelos votantes. Entre as ausências mais sentidas no top 10 nos comentários das redes sociais estão os nomes de Victor Ribas, Silvana Lima, Neco Padaratz e Phil Rajzman”, informou.

Os significados por trás da lista

A lista em si, da forma final como se configurou, significa muito mais do que um simples ranking. Diz muito mais sobre as interpretações que constróem a cara e a cultura do surf em contexto nacional do que sobre o peso literal da ordem ali exposta. Ou seja, a lista representa o exato espelho do que tem mais peso na visão brasileira do surf. Isso abre caminho para uma série de análises sobre os valores que ditam nossa cultura, principalmente a de resultados. Muito mais do que representar uma suposta memória curta, talvez o ranking aponte mais para o que vem primeiro à mente de um número maior de pessoas.

Assim, a presença midiática talvez tome status de critério quando, na verdade, teria um lugar de relevância muito inferior no verdadeiro objetivo da lista – o peso histórico do surfista na construção do surf brasileiro. Isso fez com que, naturalmente, Gabriel Medina aparecesse isolado em primeiro lugar, com ampla vantagem de pontos em relação ao segundo colocado. Natural, dado o seu nível de exposição e estímulos. Seria natural também dizer que o primeiro lugar seria dele diante do bicampeonato mundial. Mas quando se compara a outros nomes, temos um outro bicampeão mundial que ficou fora do top 10. Estamos falando de Phil Rajzman, que conquistou dois títulos mundiais antes de Medina. A diferença? Phil é campeão do circuito mundial de longboard. Isso também representa o peso da pranchinha como critério de relevância. Surf de pranchinha seria considerado, então, mais surf do que qualquer outra modalidade?

Representatividade dos surfistas no Brasil

A lista deixa ainda bem evidente as questões de representatividade e o ainda predominante conservadorismo no universo do surf. A ausência, por exemplo, de mulheres e negros no top 10, não deixa negar. Isso significaria dizer que, se há algum erro, não está na lista em si, mas nas questões estruturais da cultura brasileira que nos traz à configuração final de um top 10.

Enfim, a quantidade de material de análise e significados que uma simples lista foi capaz de conter em si mesma não poderia passar em branco. Por isso, neste episódio do Surf de Mesa, Junior Faria Carolina Bridi e Raphael Tognini tentaram destrinchar os resultados da lista para entender ainda mais como o Brasil se relaciona com o surf.

Não podemos deixar de destacar a iniciativa do jornalista Renato de Alexandrino, responsável pela reportagem publicada pelo jornal, e de mencionar que a Carol Bridi, jornalista aqui da Flamboiar, esteve entre os 10% femininos da lista de 30 jornalistas consultados para a composição do ranking divulgado pelo O Globo.

Quer saber quais comportamentos brasileiros estão refletidos neste top 10 e como ele representa muito mais do que um simples ranking? Dá o play neste episódio do podcast mais filosófico e sincerão do surf brasileiro.

Além do Spotify, você também pode ouvir o Surf de Mesa nas plataformas iTunes, Google Podcasts, Deezer e Spreaker.

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Já conhece o outro podcast da Flamboiar? SURF ZINE repercute as principais notícias e dicas do surf na semana para quem quer chegar bem informado no lineup.