Nem toda biquilha swallow é uma prancha fish. Mas, então, quais características definem o modelo que transformou a relação do surfista com a prancha, dando origem à visão que moldou o surf moderno? É sobre isso que Junior Faria, Carolina Bridi e Raphael Tognini conversam neste episódio do Surf de Mesa.

A primeira coisa a se considerar é que fish é um modelo, e não qualquer prancha com rabeta swallow e duas quilhas. Criada em 1967 por Steve Lis, um então kneeborder de 16 anos vivendo em San Diego, Califórnia, o design foi pensado para facilitar a troca de borda ao surfar de joelho em uma prancha menor do que os costumes da época. Não demorou até que a invenção caísse na mãos dos amigos. Testando a novidade, eles descobriram que aquela prancha ia muito além do objetivo para o qual havia sido desenhada. A fish surgiu um pouco antes da shortboard revolution. Ou seja, antes do período em que as pranchas começaram a diminuir de mais de 9 pés para algo em torno de 7 pés. Isso dá a verdadeira dimensão de como a criação era inovadora e revolucionária para a época.

Muito do que Steve Lis desenvolveu ia ao encontro dos conceitos utilizados por Bob Simmons em 1951, ainda que ambos não se conhecessem. Simmons, surfista que trabalhava na Marinha no pós-guerra, inspirou-se nos catamarãs para desenvolver o conceito planing hull. Com isso, criou o primeiro projeto de biquilha da história do surf. Sem conhecimento prévio sobre o design desenvolvido por Simmons, Lis acabou chegando intuitivamente a soluções bem semelhantes mais de 15 anos depois.

Mirou o kneeboard e acertou no surf de pé

Pessoas diferentes em períodos diferentes chegaram a conclusões parecidas no processo que levou ao surgimento de pranchas menores. Mais que um simples modelo, a fish acabou virando uma ideia e influenciou muito o estilo de surf no sul da Califórnia, onde estas pranchas encontram ondas mais amigáveis. Não foi por acaso que, nesta região, os surfistas abraçaram por completo a ideia. Tanto é que quem levou o legado de Lis mais a frente foi o shaper Skip Frye, que continuou, e continua até hoje, fazendo pranchas neste mesmo estilo. Foram as suas pranchas que acabaram espalhando o modelo pelo mundo inteiro.

Pensada para surfar de joelho, a rabeta mais larga foi desenhada para acomodar as nadadeiras usadas no kneeboarding. Lis não inventou o swallow, mas o alargou para permitir espaço ao surfista de joelhos sobre a prancha. Foi assim que ele chegou, então, a conclusões semelhantes às de Simmons: quando se diminui o comprimento da prancha, é possível deixar a rabeta mais larga. Isso era algo impensável nas pranchas mais longas.

As características de uma autêntica fish

Uma prancha fish obrigatoriamente tem uma rabeta swallow em formato de rabo de peixe, ou seja, com linhas mais curvadas, e tem pelo menos 19 polegadas de meio. A prancha original criada por Steve Lis tinha 5´7,5 de comprimento, 21 e 1/4 de meio e pouca curva. Ou seja, era muito larga. As quilhas eram paralelas à longarina e tinham double foil. Com isso, a ideia era que cada uma das duas quilhas funcionasse individualmente como monoquilha conforme o surfista trocava de borda. Isso significa que o próprio outline mais paralelo da prancha – curta, muito larga no centro, biquilha com rabeta larga e swallow em forma de rabo de peixe – seja a característica principal de uma autêntica prancha fish.

Fato é que o design foi capaz de manter sua relevância desde o final da década de 60 até os dias de hoje. Enquanto naquela época o grande benefício que uma fish oferecia era a capacidade de trocar de borda com mais facilidade, entrando em lugares da onda impossíveis com as monoquilhas maiores, o que faz dela popular ainda hoje é a sensação de deslizar com maciez e velocidade em conjunto com a onda. Se as monoquilhas exigem que o surfista obedeça a onda e as triquilhas modernas permitem um ataque contra a onda, a fish tem uma característica mais conciliatória. É como se ela promovesse um acordo de paz entre surfista, prancha e onda.

Se você quer aprender mais sobre o modelo em uma conversa solta e divertida, dá o play neste episódio do Surf de Mesa – o podcast tão divertido quanto surfar em uma autêntica fish:

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