Acabamos de voltar de Saquarema, onde durante 10 dias o maior evento de surf do mundo movimentou milhões na economia regional. Milhares de fãs tomaram as ruas e areias, tietando ídolos brasileiros e gringos, independente de saber quem são. Tira a foto, depois descobre o nome pra postar nas redes a proximidade com as estrelas. Senta na areia, espera o sinal de telefonia dar conta de carregar o post enquanto toma um açaí, renova a camada de protetor solar e os amigos se dividem entre quem toma cerveja e quem prefere uma bebida energética. Tudo alcançado ali mesmo, a um pix de distância, movimentando sem nem perceber uma indústria que vai muito além do mar.

Sim, indústria. O surf é essência, mas há muito deixou de ser só isso. Não teríamos evoluído como modalidade e cultura se no passado, lá quando tudo era apenas expressão, os fissurados não tivessem inventado formas de sustento a partir de sua paixão. As marcas de surf surgiram, e atrás delas, muitas outras perceberam que ali existia literalmente um oceano azul.

Portanto, hoje, se há polêmicas dando conta de que decisões já não são tomadas apenas por surfistas e apenas pelo esporte, podemos opinar, claro. Mas para opinar com consistência, argumento e evitar a hipocrisia, cabe entender que o momento em que estamos hoje em relação ao surf não está, e nem poderia estar, apartado do tempo econômico-social em que vivemos. Não estamos mais na década de 70. Não estamos mais presos a uma única expressão cultural predominante. E também não vivemos mais sem pensar em como dar conta dos boletos. A realidade é um sistema complexo. Certo ou errado? Justo ou injusto? É outro papo. Fato é que não temos como existir nele só pela metade, só até onde convém. Evoluímos! Para o bem e para o mal, evoluímos.

Afinal, não é você que, quando vibra amarradão sobre as proezas que faz em cima daquela prancha mágica, adora dizer que foguete não tem ré?

A receita do sucesso

Para entender como se faz do surf um negócio lucrativo mesmo em tempos de concorrência galopante, estímulos infinitos, transformações tecnológicas e sociais aceleradas, e recursos, senão cada vez mais escassos, em realidade, finitos, convidamos Pedro Dau de Mesquita, diretor executivo comercial da 213 Sports, vertical de esportes da V3A, para conversar com Rapha Tognini e a Carol Bridi neste episódio do podcast Surf de Mesa.

Desde quando começou a surfar, aos 8 anos de idade, até viver na realidade o sonho de trabalhar com marketing esportivo, Pedro conta os passos pessoais, profissionais e o alinhamento de contextos que o posicionaram como um dos principais parceiros comerciais da WSL. Responsável por fechar grandes contratos que proporcionam suporte financeiro capaz de construir as maiores estruturas do tour que abriga a elite mundial do surf, Pedro mostra que as oportunidades fazem toda diferença, mas que não há negócio que se crie se, ao ouvir tocar o telefone, o sujeito não souber o que dizer.

Foi estudando a fundo a história e os significados por trás do comportamento surf, que as coisas aconteceram. Enquanto a 213 Sports se estruturava, ainda com quatro amigos sem saber muito o que fazer, o fenômeno Braziliam Storm estava prestes a explodir a bolha.

O esporte, para ter sucesso, depende de quatro ingredientes, precisando de pelo três ao mesmo tempo para acontecer: o ídolo, a rivalidade, a base de fãs e uma boa conexão com essa base”, define.

O marco zero da 213 Sports

Quando a 213 Sports engatinhava cheia de vontade, o surf brasileiro acabou entregando não somente três, mas todos estes quatro ingredientes. Já eram alguns anos de muito estudo, trabalho e relações nos bastidores até fechar definitivamente, em 2014, como parceiro comercial da etapa brasileira do CT. Enquanto eles trabalhavam nas internas para levantar o Oi Rio Pro 2015, Gabriel Medina se tornou o primeiro brasileiro campeão mundial, instantaneamente se transformando em ídolo nacional. Em seguida, a rivalidade. Além do Brasil ganhando espaço em um mercado predominantemente americano/havaiano e australiano, outros ídolos brasileiros já espreitavam o título. Depois de Medina em 2014, Mineiro garantiu o de 2015. Mas a receita estava completa antes mesmo do fim daquela temporada.

Final com (Filipe) Toledo na Barra da Tijuca em 2015 com transmissão ao vivo na Globo, 40 minutos de bateria final, e ele quebra a prancha. A cena da prancha passando de mão em mão de brasileiro até chegar na água, foi emblemática. Tinha alguns milhares (de fãs) ali na praia e eu diria que esse foi nosso marco zero dentro do surf”, crava.

Quer saber o resto da história e entender como o cenário de negócios do surf se desenvolveu desde então e como tem funcionado hoje? É só dar o play aqui, ó:

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