Se você está atento ao que está rolando no universo do surf brasileiro nestes tempos pandêmicos, já deve ter percebido que nunca se ouviu falar tanto em surf treino quanto no último mês. O movimento que, ao que tudo indica, ainda está em ascensão, tem ganhado proporções nunca antes vistas por aqui. Para entender as motivações e os possíveis reflexos que essa realidade momentânea pode, ou não, vir a ter no futuro do surf brasileiro, este episódio do Surf de Mesa se dedica a observar as diferenças do que está acontecendo agora e do que acontecia nos surf treinos pré-pandemia.

O que é surf treino?

Em seu conceito básico, é um treino que simula um pequeno campeonato completo, com rounds, baterias e chaves. Porém, sem a necessidade da estrutura física e burocrática das competições formais. Surf treinos são, portanto, competições informais entre surfistas, sem validade para efeitos de qualquer ranking oficial.

Dada a seriedade com que as disputas ocorrem, são uma reprodução de situação idêntica a um campeonato formal capaz de treinar o surfista mental e psicologicamente para as situações de pressão decorrentes da busca por resultados. Aqui, a capacidade estratégica entra em campo. Assim como aguça os efeitos de química cerebral responsáveis pela veia competitiva do atleta. Portanto, é um componente essencial no treinamento integral do surfista de competição. É no surf treino que todos os outros trabalhos realizados na preparação do atleta podem ser colocados à prova a partir da aplicação estratégica em uma situação mais próxima possível de um verdadeiro campeonato.

Também é essa química cerebral ligada à competitividade, provavelmente, a responsável pelo efeito que um surf treino provoca sobre os surfistas. Mesmo sem validade para ranking, o surf treino tem os mesmos efeitos sobre os competidores, que levam a busca pelo resultado em um surf treino tão a sério quanto em uma competição formal.

E os surf treinos de agora?

Conceitualmente falando, os surf treinos que estão pipocando aos montes nas últimas semanas em diversos lugares do Brasil são exatamente os mesmos. A diferença talvez esteja no nível de surf envolvido. Surf treinos são comuns entre grupos de surfistas que costumam treinar juntos. Nos dias de hoje, porém, com a escassez de competições e o cancelamento de todas as etapas do circuito mundial, os surf treinos surgem com mais intensidade em diferentes regiões do país, se organizando de uma forma mais elaborada. Alguns, inclusive, com premiações e apoiadores.

Em que outra época se poderia imaginar, por exemplo, um surf treino com a participação de atletas do CT? Ou com surfistas se deslocando para outras regiões com objetivo de participar de uma competição informal? É isso que torna muito interessante o que está acontecendo nesse momento no Brasil ao redor dos surf treinos. Trata-se de um movimento inédito na história do surf nacional.

Vale lembrar que no início dos anos 2000 houve um forte movimento de surf treinos entre atletas do circuito amador. Foi nesta época que surgiram surf treinos famosos, como o organizado pelo surfista Taiu Bueno na praia de Pitangueiras, no Guarujá. O surf treino do Taiu era praticamente um campeonato, com inscrições, surfistas vindo de todas as praias da região e baterias rolando do começo ao final do dia. Mantinha a informalidade, sem estrutura de campeonato, sem burocracia, sem liberações envolvendo o poder público, mas tinha um peso relevante na cena local. Mas um movimento envolvendo surfistas do circuito profissional com proporções interestaduais, talvez esta seja a primeira vez. O que dá um peso relevante ao que está acontecendo nesse momento.

Sentido de motivação interna

Além de manter o ritmo, os surf treinos alimentam uma necessidade identitária do surfista competidor. São eles que estão permitindo, agora, um mínimo abastecimento da energia competitiva na vida de quem literalmente se alimenta disso. Manter o foco na necessidade de um objetivo final pode fazer toda diferença para evitar a perda do sentido de motivação interna que alimenta o surfista profissional psicologicamente.

Trata-se de uma movimentação que nasce na praia de forma orgânica, sem interferência de marcas em sua concepção inicial. Tornando o fenômeno ainda mais interessante na medida em que se identifica a motivação primeira do surfista competidor. Ao que parece, reativando aquela centelha inicial do que o fez optar por seguir esse caminho. Mais do que a busca pela suposta vida dos sonhos em um tour mundial ou por salários e premiações que permitam a continuidade da “brincadeira”, é o surfista seguindo sua necessidade mais primitiva – a de surfar.

Se este é um movimento que pode estimular o retorno de uma cena nacional mais organizada ou se não passa de um tapa buraco momentâneo é o que Junior Faria, Carolina Bridi e Raphael Tognini debatem nesse episódio:

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