Estimulados pela comoção que toma conta das pessoas de tempos em tempos sempre que vem à tona a notícia de fechamento de uma revista de surf, neste episódio do Surf de Mesa, Junior Faria, Carolina Bridi e Raphael Tognini trazem as mídias de surf ao cerne da questão. Em uma longa trajetória de decadência do mercado editorial, o desaparecimento das versões impressas de títulos tradicionais da mídia especializada deixa as pessoas saudosas de algo que, em muito, moldou suas relações apaixonadas com o surf.
Desta vez, foi a súbita notícia do fechamento da sexagenária Surfer que trouxe a questão à baila. Não só por ser a mais tradicional das revistas de surf do mundo, mas principalmente pelo fato de não somente a versão impressa, mas também sua presença digital ter sido abruptamente interrompida, a mídia de surf entrou na pauta do podcast depois de muito adiada. Adiada, sim, porque não é de hoje que o assunto surge nos pedidos dos ouvintes, sempre com as melhores sugestões de pauta para nossos episódios.
Mas, por que, então, resolvemos falar disso só agora? Porque diz respeito a nós mesmos e aos dilemas que enfrentamos diariamente na cruzada épica que é fazer conteúdo profissional de surf em tempos de completa confusão e incompreensão generalizada sobre os conceitos relacionados ao termo mídia.
Se você quer saber o que pega realmente por trás das telas, telinha e telões que determinam a contraditória realidade midiática que vivemos atualmente, dá o play aqui:
O que é mídia, afinal?
A gente sabe que uma conversa é difícil quando, para começar, não há consenso sequer sobre o próprio conceito do tópico principal. O termo mídia, ao longo da história da comunicação, passou longe de ser consenso entre pesquisadores. Sua definição passa por tantas dimensões, que é comum não se definir em um só fim. O termo mídia sempre foi tradicionalmente usado para designar tanto o conjunto dos meios de comunicação (formas de transmissão e seus formatos variados) quanto o conjunto de instituições que utiliza tecnologias específicas para realizar a comunicação humana (as empresas de mídia), para citar só dois dos conceitos.
Mais recentemente, ganhou sentido infinito com o surgimento das redes sociais. Em um universo em que tudo e todos estão relacionados ativamente à mídia, o termo torna-se tão vulgar e desmoralizado quanto qualquer coisa desprovida de um propósito claro.
Com o arrebatamento das mídias sociais sobre todas as horas dos nossos dias, mídia, afinal, tornaram-se todas as pessoas. Daí, talvez, a dificuldade de atribuir valor a algo que, por mais obsoleta que pareça, continua exercendo sua função porque permanece sendo essencial à humanidade. Construir e disseminar conhecimento é fundamental na construção de qualquer sociedade. Isso talvez explique as lamentações que surgem quando grandes títulos ou mídias profissionais desaparecem.
Como funciona hoje?
Dar valor a algo somente depois de perder pode ser um clichê antigo, mas não deixa de se aplicar nesse caso. Quantas das pessoas que lamentaram a extinção da Surfer o fizeram porque estavam, de fato, consumindo seu conteúdo? E quantas lamentaram apenas a morte de um espaço interno onde guardavam boas recordações de tempos em que eram mais jovens?
Aqui, cabe a pergunta sobre quantas dessas pessoas estavam sustentando a Surfer. E, calma, sustentar não significa apenas pagar uma assinatura ou comprar uma edição nas bancas que ainda resistem. Também não significa única e exclusivamente a ideia de pagar por conteúdo de surf (ainda que isso não seja questionável na hora de pagar pela Netflix ou pela TV a cabo). Estamos falando em consumir conteúdo com a consciência sobre a diferença de custo que envolve a produção de conteúdo profissional. Sabe aquela foto do açaí do teu brother que você curtiu, compartilhou, interagiu e jogou lá pra cima nos algoritmos que determinam o que tem maior ou menos alcance de público? É isso que você deve fazer também com o conteúdo profissional que te agrada.
A cruzada empreendida não tem relação somente à escassez financeira e falta de valorização que assola a produção profissional, mas principalmente às tendências pessoais de comportamento nas redes.
Quando nos deparamos com o fato de que fake news são 70% mais compartilhadas do que notícias reais, podemos entender que a culpa e a responsabilidade é de todos, mesmo sem precisar, necessariamente, botar a mão no bolso. Vale ainda registrar que fake news é um apelido carinhoso para a imoral e indesejada mentira. Com isso, estamos cientes de que é o comportamento de dar audiência e alcance aos conteúdos errados que causa a morte do que dizemos gostar.
Mas, como?
Quando o sustento financeiro está baseado em métricas de alcance, fica fácil entender a resposta. Se você não quer deixar de ter o conteúdo que curte, passe a incentivar o alcance dele, interagindo com tudo que puder, espalhando tanto quanto for possível. Se você não gostaria ou não pode pagar por ele, tenha atitudes práticas reais que aumentem as chances de que marcas se interessem em patrociná-lo. Mostre que você gosta e precisa daquilo, e que a marca que se associar estará fazendo um agrado real a você. Ou seja, que ao dar suporte a um conteúdo profissional, também o patrocinador está se tornando essencial na sua vida. Afinal, isso é tudo que as marcas perseguem – a fórmula mágica para cair nas graças do consumidor. E você, ouvinte-leitor, é o consumidor.
E caso você tenha um espacinho no orçamento, não deixe de contribuir com as assinaturas de conteúdos profissionais que te agradam e que estão disponíveis por aí. Por mais louco que pareça, eles não surgem do vácuo da internet para brotar diretamente no sua tela. Existem pessoas produzindo e tentando viver deles. Se você vê valor, valorize.
Obrigado, de nada!
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