Você passa diariamente por diversos caminhos para chegar onde precisa estar: no mar. Mas quantas vezes você se dá conta de que não faz ideia da origem do nome da sua praia ou das ondas que mais almeja surfar na vida? Desde tenra idade, o jovem mancebo Junior Faria sempre foi encantado com o nome das coisas. Da curiosidade juvenil até começar a se perguntar de onde saem os nomes das ondas que pegou pelo mundo foi um pulo. E conversando com seu amigo Paulo, O Geógrafo, teve a grande ideia de transformar isso em tema de podcast.

Para falar sobre um assunto que, a primeira vista, pode parecer completamente sem importância para você, afoito surfista, nesse episódio do Surf de Mesa, Junior, Carol Bridi e Rapha Tognini conversam com Paulo de Tarso, geógrafo e professor, sobre toponímia.

Calma! Se você já está se perguntando que raios significa isso e por que estamos misturando palavrão com o surf nosso de cada dia, a gente explica. Dá o play aí:

Toponímia

Um deserto tem nome, todas as praias têm nome, até onda tem nome, às vezes até casa tem nome. Isso acontece porque tudo tende a ser único. Mas se tudo é único, por que existem tantas praias grandes, pretas, brancas, vermelhas, e por aí vai? Paulo explica que isso tem a ver com toponímia, a ciência que estuda o nome dos lugares e os aspectos geográficos.

Aí dá para entender o motivo de tantas long beachs pelo mundo. Parece ser natural a associação de uma praia de longa extensão ao óbvio Praia Grande. Mas aí, vem a pergunta: Por que a brasileira Praia do Cassino, no Rio Grande do Sul, que já foi considerada a maior praia do mundo, não se chama então, Praia Grande? Bingo! Nem tudo é tão previsível assim. E é aí que a toponímia revela seu valor.

Natureza dos nomes

Os nomes das praias que frequentamos podem ter sido originadas a partir de diferentes estímulos, criando assim uma categorização dentro da toponímia. Nomes, por exemplo, como os já citados praia grande, vermelha, preta, branca, de tombo, do leste, etc, estão relacionados a características físicas e geográficas do local, sendo assim chamados de Natureza Física. Segundo Paulo, a Praia Vermelha no Rio de Janeiro, por exemplo, tem esse nome porque, ao entardecer, o solo local possui características que provocam um reflexo vermelho. Existem ainda os nomes de Natureza Antropo-Cultural, que estão relacionados com os aspectos sociais, históricos e culturais entre o homem e aquele espaço. Aqui entra, por exemplo, a influência dos idiomas nativos e características de como se deu a colonização do lugar.

Uma pesquisa revelou que no Ceará, por exemplo, de 42 praias, praticamente metade (47,6%) tem nome de Natureza Física, e a outra metade (45,2%) é de Natureza Cultural.

Nomes das ondas

No Brasil, o mais comum é chamarmos a onda que surfamos pelo mesmo nome da praia onde ela está, até por serem em maioria beach breaks, ou seja, sem um lineup muito definido. Por outro lado, existem muitos outros lugares (e alguns também no Brasil) em que é comum nomear a onda em si. Em um point break, muitas vezes o nome da onda não é o mesmo da praia porque existem vários picos na mesma baía. A onda de Caballeros, por exemplo, na praia de Punta Hermosa, no Peru, é uma direita. Na mesma praia, quebra uma esquerda, chamada Señoritas. As duas se encontram em um canal localizado entre elas.

Pipeline e Backdoor, juntas, formam um dos exemplos mais emblemáticos de situação semelhante, em que não existe sequer um acidente geográfico dividindo uma onda da outra. Quem nunca foi ao Hawaii, pode imaginar que precisará se deslocar para escolher entre Pipeline e Backdoor. A realidade é que ambas são resultado de uma mesma massa d´água que atinge a mesma bancada. A diferença é que, na hora de quebrar, cada uma quebra para um lado. Pipeline para a esquerda, e Backdoor para a direita. No Pipe Masters, etapa mais clássica do circuito mundial, se um atleta surfar para a direita na bateria, na realidade estará surfando Backdoor, e não Pipeline.

Indo além, uma onda mais longa ainda pode ter nomes das sessões. Jeffreys Bay, por exemplo, tem The Point (o começo). Depois de  algumas outras sessões, chegar a Supertubes, que é a sessão mais famosa nos campeonatos. Algumas sessões mais à frente, ainda a mesma onda que começou lá em The Point fecha na sessão conhecida como Impossibles.

E você? Sabe a origem do nome da sua onda?

Pode parecer besta e inútil saber de onde vem o nome do pico que você mais surfa ou dos lugares por onde passa ou quer passar ao longo da sua vida surfística. Mas isso remete a uma conexão maior com o ambiente ao seu redor e, possivelmente, trará um adicional de integração com o surf, o mar e sua realização pessoal nessa relação tão intensa. Homem e mar. História e conexão local. Prazer e conhecimento. Se você ainda não sabe, se questione sobre a história que faz sua praia ter o nome que tem. Busque saber e se sinta ainda mais pertencente ao seu próprio surf. E se você já sabe ou descobrir, depois conta pra gente qual a história do teu pico.

 

[skin-link-button text=”Apoie o Surf de Mesa no Catarse” url=”http://catarse.me/flamboiar” custom_colors=”false” txt_color=”#353535″/]

Além do Spotify, você também pode ouvir o Surf de Mesa nas plataformas Apple Podcasts, Google Podcasts, Deezer e Spreaker.

(Foto de capa: Sean/Unsplash)

[skin-wave-divider position=”horizontal” align=”center” color=”#353535″ animate=”true”/]

Já conhece o outro podcast da Flamboiar?  VA surfar GINA é o podcast para quem saber mais sobre o surf feito por mulheres.