Quem já me ouviu falando nos podcasts da Flamboiar, conhece minha opinião sobre o posicionamento comercial das marcas de surfwear em relação ao surf feminino. Pra mim, a visão míope, de décadas a fio enxergando mulheres como enfeite em filmes de surf, resultou na dificuldade extrema em acompanhar o caminho que as mulheres têm trilhado para ocupar certos espaços. Se hoje temos acessos crescentes (mercado de trabalho, independência financeira, prática de esportes e voz), isso tem se dado por luta, jamais por concessão.
Por isso, quando percebi que minha amiga Julia Santos, surfista de primeira categoria, conquistou pela primeira vez em mais de uma década de carreira no surf, um patrocínio de bico, não só fiquei muito feliz como também achei que isso poderia ter um significado mais profundo para todas nós. Afinal, uma mulher que já havia conquistado título de campeã brasileira e que estava ali em terceira posição, logo atrás de nomes como Silvana Lima e Tati Weston-Webb, na fila para participar da estreia do surf nos Jogos Olímpicos, pela lógica utópica da meritocracia, já deveria ter adesivo no bico há muito tempo. Mas não. Nunca tinha rolado até aquele momento.
O que, então, esse patrocínio de uma marca brasileira em plena crise global poderia estar indicando sobre o estágio atual da luta por reconhecimento do potencial feminino no surf?
Investimento primeiro, resultado depois
Feliz da vida pela Julia (e por cada mulher que vibrou junto nessa que também é uma conquista coletiva), resolvi prestar atenção na marca que grudou seu logo no bico da braba. HD. Me veio Adriano de Souza na cabeça. Sim, foi também com esse adesivo no bico que ele conquistou o batalhado título mundial. A sigla para Hawaiian Dreams, pensei comigo, parecia ter um posicionamento interessante na escolha de sua equipe. Foi quando percebi que Julia é a primeira mulher a integrar o surf team da marca que, pasmem, não produz coleção feminina. Bom sinal, pensei… parece que nesse caso estaríamos livres de tentarem nos convencer que é possível surfar com biquininhos minúsculos só para “florir” o crowd. Hmmm… interessante! Mas, será?
Aquele nó na minha cabeça só se resolveu procurando o pessoal da HD para tentar entender: Por que a marca decidiu escolher uma mulher pra integrar sua equipe de atletas mesmo sem vender roupa para mulheres?
Ansiosa pela resposta, confesso que tive medo. Bandeiras fakes têm sido a toada na corrida pelo posicionamento comercial frente à democratização de vozes proporcionada pelas redes sociais. Marca nenhuma quer cagar fora do balde politicamente correto em tempos de cancelamento. Cética que sou, temi enquanto esperava uma resposta deles. E ela veio:
O surf feminino mundial vem crescendo a cada ano, às vezes mais que o masculino. Vejo que está muito forte fora do Brasil, com meninas de 15 anos ganhando Challenger Series e outras garotas da base cada vez mais fortes. No Brasil, sinto que estamos um pouco atrás. Estamos crescendo, mas estamos consideravelmente alguns passos atrás. A HD investindo cria não só oportunidade de mercado, mas também tendência de mais investimento geral no surf feminino.”
Caio Camillo, Marketing da HD
Ahhh, que alegria! Mais do que as palavras que vieram por escrito na resposta, li nas entrelinhas a resposta que eu mais desejava. Finalmente uma marca de surfwear tirou os antolhos e foi capaz de não colocar o carro na frente dos bois. Primeiro, o investimento. Depois, o resultado. Essa é a ordem natural das coisas no mundo dos esportes e dos negócios, mas quando se trata de surf feminino essa lógica nunca pareceu razoável para um esporte que está sim mudando, mas que ainda padece de opiniões como a caduca “se o show não é o mesmo, porque elas devem ganhar igual?”
E a Julia voou
Aí já que o papo estava bom, eu também quis saber: Por que a Julia Santos? E a resposta veio rápida e redonda: “Em primeiro lugar foi o talento. Quando estávamos procurando, a Ju estava como uma das melhores atletas no Brasil, ficando em 3º lugar para ir disputar a Olimpíada, logo atrás das lendárias Silvana e Tati. Com isso, conseguimos ver o grande potencial que ela tem de atingir lugares altos”.
Falando em lugares altos, a própria Julia toma a dianteira. Já que a ideia da HD é apoiar atletas na conquista de seus sonhos, de um papo divertido surgiu a pergunta:
– O que você tem vontade de fazer e nunca fez, Julia?
– Voar!, disse ela.
Isso já percebemos no mar, mas como a gente nunca se contenta com pouco, nem a Julia, nem a HD, nasceu esse filminho aqui para inspirar quem mais quiser voar. Como avisa a própria Julia no filme:
Quer dar um aéreo? Vai! Arrisca! Quer voar no gesto, na atitude? Voa! É a nossa própria trajetória, de mais ninguém.”
Aqui nesse filme produzido pela Flamboiar, você vai ver o segundo motivo que fez a HD escolher a Julia, justamente a Santos, para estar na sua equipe: “Por ela ser uma mulher guerreira e batalhadora, por toda a história que ela já passou. A Julia nunca desistiu e continua seguindo atrás dos seus sonhos”, diz Caio.
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Nota da redação: Se você leu até aqui com medo de que tudo isso não passasse de um publi, fique tranquilo… Aqui na Flamboiar, algumas produções estão à venda. Opiniões, não!