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Texto: Érica Prado | Fotos: Sam Manhães

Falam que o ano só começa depois do carnaval. O meu começou em janeiro mesmo, como um furacão. Mas em fevereiro me dei 15 dias de férias e fui para o Nordeste. Eu tenho uma relação muito singular com esse lugar. O Encontro Nacional do Surfistas Negras em Maracaípe no ano passado foi superpotente, reuniu cerca de 100 mulheres negras com o mesmo desejo de surfar, se divertir, se conectar. E foi um divisor de águas.

Ali começou um momento muito forte de autoconhecimento, novas descobertas e novos ciclos na minha vida. E pensei: quero voltar nessa terra.

Filipe Toledo, Miguel e Samuel Pupo.
Bruno Zanin segurando comida e durante gravação de filme no Hawaii

Voltei em fevereiro, passei uma semana em Pernambuco e uma na Bahia. Conhecer o carnaval de Olinda, que é uma festa riquíssima culturalmente, era um desejo antigo. Mesmo assim, foi um carnaval de conexão com a natureza. Surfei, curti praia, piscina natural, tive essa reenergização que tenho quando me conecto com a natureza.

Era o combustível que eu precisava.

Estou focada no meu trabalho, com um projeto em TV que é a realização de um sonho, e em um momento especial do Surfistas Negras. O trabalho no movimento é muito pessoal. Tem esse gostinho de transformação. Estou fazendo por essas meninas o que eu gostaria que alguém tivesse feito por mim 20 anos atrás, mas também me realizo através delas. Meu desejo é trazer essas meninas para perto porque elas me fortalecem, me tornam uma mulher mais madura, mais confiante. É uma troca muito positiva.

O meu trabalho como jornalista também está num bom momento. Esse ano sou uma das comentaristas e repórteres da WSL no Brasil em etapas do QS. Estou fazendo o que amo profissionalmente, o que deixa meus olhos brilhando. Sou uma ex-competidora, e ocupar esse ambiente como jornalista, como comentarista, é muito importante.

Miguel e Samuel Pupo montando quebra-cabeça durante etapa do CT no Hawaii

Foto: Sam Manhães

Fico feliz em ligar as transmissões e me deparar com uma maioria feminina na comunicação. É nítida essa transformação. Durante muitos anos eram só homens ocupando esses lugares. Vejo uma nova era e estou feliz em fazer parte. Sobretudo, quando a gente fala da questão racial, são sempre homens brancos, sempre mulheres brancas.

Eu ainda sou uma figura única. Ainda não tem outra mulher negra com o mesmo espaço que eu conquistei. Eu tenho bagagem para ocupar aquele lugar, sou jornalista e trabalho com surf há 18 anos. Sei que estou ali pela minha competência, mas gostaria de mais, e sei que existem outras mulheres negras com a mesma competência e que poderiam estar ali também. Eu não quero estar ali sozinha.

Sempre brinco: me contratem, mas tenham consciência de que além de comunicadora, sou ativista, sou militante. Me sinto muito livre para falar sobre todos os assuntos nesses ambientes, o que é maravilhoso, porque já trabalhei em veículos em que eu não podia emitir a minha opinião 100%. Tinha que segurar a minha onda.

Agora me vejo mais livre para falar sobre assuntos como racismo e machismo no surf. Então me sinto muito esperançosa. Tem muito caminho ainda pela frente, mas estando lá dentro, consigo questionar e trazer outras irmãs para dentro. Esse é o papel de toda mulher, e não só das negras: trazer uma das nossas para dentro desse universo.

Siga @surfistasnegras e contribua na campanha de financiamento coletivo para viabilizar a participação de surfistas profissionais negras e nordestinas que estão sem patrocínio e que representam o movimento no circuito brasileiro Taça Brasil, Dream Tour e nas etapas do QS.

Publicado originalmente na edição impressa nº 01 da Revista Flamboiar. Para saber mais, clique aqui

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Texto: Érica Prado | Fotos: Sam Manhães

Falam que o ano só começa depois do carnaval. O meu começou em janeiro mesmo, como um furacão. Mas em fevereiro me dei 15 dias de férias e fui para o Nordeste. Eu tenho uma relação muito singular com esse lugar. O Encontro Nacional do Surfistas Negras em Maracaípe no ano passado foi superpotente, reuniu cerca de 100 mulheres negras com o mesmo desejo de surfar, se divertir, se conectar. E foi um divisor de águas.

Ali começou um momento muito forte de autoconhecimento, novas descobertas e novos ciclos na minha vida. E pensei: quero voltar nessa terra.

Voltei em fevereiro, passei uma semana em Pernambuco e uma na Bahia. Conhecer o carnaval de Olinda, que é uma festa riquíssima culturalmente, era um desejo antigo. Mesmo assim, foi um carnaval de conexão com a natureza. Surfei, curti praia, piscina natural, tive essa reenergização que tenho quando me conecto com a natureza.

Era o combustível que eu precisava.

Estou focada no meu trabalho, com um projeto em TV que é a realização de um sonho, e em um momento especial do Surfistas Negras. O trabalho no movimento é muito pessoal. Tem esse gostinho de transformação. Estou fazendo por essas meninas o que eu gostaria que alguém tivesse feito por mim 20 anos atrás, mas também me realizo através delas. Meu desejo é trazer essas meninas para perto porque elas me fortalecem, me tornam uma mulher mais madura, mais confiante. É uma troca muito positiva.

O meu trabalho como jornalista também está num bom momento. Esse ano sou uma das comentaristas e repórteres da WSL no Brasil em etapas do QS. Estou fazendo o que amo profissionalmente, o que deixa meus olhos brilhando. Sou uma ex-competidora, e ocupar esse ambiente como jornalista, como comentarista, é muito importante.

Miguel e Samuel Pupo montando quebra-cabeça durante etapa do CT no Hawaii

Fico feliz em ligar as transmissões e me deparar com uma maioria feminina na comunicação. É nítida essa transformação. Durante muitos anos eram só homens ocupando esses lugares. Vejo uma nova era e estou feliz em fazer parte. Sobretudo, quando a gente fala da questão racial, são sempre homens brancos, sempre mulheres brancas.

Eu ainda sou uma figura única. Ainda não tem outra mulher negra com o mesmo espaço que eu conquistei. Eu tenho bagagem para ocupar aquele lugar, sou jornalista e trabalho com surf há 18 anos. Sei que estou ali pela minha competência, mas gostaria de mais, e sei que existem outras mulheres negras com a mesma competência e que poderiam estar ali também. Eu não quero estar ali sozinha.

Sempre brinco: me contratem, mas tenham consciência de que além de comunicadora, sou ativista, sou militante. Me sinto muito livre para falar sobre todos os assuntos nesses ambientes, o que é maravilhoso, porque já trabalhei em veículos em que eu não podia emitir a minha opinião 100%. Tinha que segurar a minha onda. Agora me vejo mais livre para falar sobre assuntos como racismo e machismo no surf. Então me sinto muito esperançosa. Tem muito caminho ainda pela frente, mas estando lá dentro, consigo questionar e trazer outras irmãs para dentro. Esse é o papel de toda mulher, e não só das negras: trazer uma das nossas para dentro desse universo.

Siga @surfistasnegras e contribua na campanha de financiamento coletivo para viabilizar a participação de surfistas profissionais negras e nordestinas que estão sem patrocínio e que representam o movimento no circuito brasileiro Taça Brasil, Dream Tour e nas etapas do QS.

Publicado originalmente na edição impressa nº 01 da revista Flamboiar. Para saber mais, clique aqui.