O Espírito Santo possui, talvez, a esquerda tubular mais perfeita do Brasil. Tem também, provavelmente, a maior onda surfada nesse país. E, de quebra, algumas lajes, ondas e atletas que todos gostariam de ter no seu próprio quintal. É justamente nesse pedaço de Brasil, que poderia ser o crossfade perfeito entre Sudeste e Nordeste, que o interesse dos humanos que residem no terço sul do país parece se esvair propositalmente na transição.
Apesar de nunca ter colocado um dedo sequer em terras capixabas (fica aqui um convite a convites para conhecer presencialmente), esse quinhão de terra sempre habitou meu imaginário, com as ondas de Regência; e meu cotidiano, com a quantidade de bandas que eu gostava e que vinham dali.
Foram 744 caracteres até agora (se fossem quilômetros, seriam uns 250 a mais que o tamanho da costa do estado) pra perceber que eu estou querendo falar sobre esquecimento e nostalgia antes de falar sobre o que eu preciso efetivamente.
Tudo isso começou com uma mensagem assim no Instagram da Flamboiar:
@os.guru.sa 6:33 p.m
“Hey, tudo beleza? Ouvi o podcast de vocês sobre surf music. Deem uma sacada no single que estamos pra lançar. Curtiríamos muito uma ajuda na divulgação, caso seja viável. Obrigado!
@os.guru.sa 6:34 p.m
Não chamaria exatamente de surf music porque não é instrumental. Surf music com voz?”
Então, eu preciso falar sobre música. Especificamente sobre uma banda que toca surf music.
Se alguém escolhe em pleno 2022 tocar isso, assim como eu, tem algum ponto de nostalgia em aberto. Se quer colocar voz na jogada é porque quer lembrar de algo ou colocar pra fora pra nunca mais lembrar ou se fazer eterno mesmo que num momento “instagrâmico”, onde podemos virar especialistas sobre um estado mesmo nunca tendo pisado nele.
Eu não conhecia nada sobre Os Guru Sá. No feed apenas alguns teasers, a vibe saudosista do ensaio na garagem e uma antecipada produção de merch. Na DM, um link pro primeiro single e clipe dessa banda de jovens habitando a segunda metade da casa dos 30. Eu curti. Então resolvemos marcar uma conversa virtual pra eu sacar mais qual a ideia desse pessoal.
Pra te poupar de mais uma entrevista, vou colocar aqui a forma de conteúdo mais valorizada nesses tempos modernos: A opinião pessoal e unilateral daquilo que eu entendi e senti conversando com Rodrigo Calhau, que toca baixo e canta as palavras, e Lucas Bonini, que toca aquela que não poderia faltar na surf music, a guitarra. Eles também contam com Gabriel Queiroz na bateria, mas ele faltou na chamada e tudo que sei sobre ele foi contado pelos outros.
Os Guru Sá
Essa história de música surf entre os três tem realmente o surf como ponto de partida. Foram tocados pelo espírito (santo? kkcry) do surf tardiamente e abençoados com o despertar que o desporto dos reis traz para aqueles que chegam mais tarde na festa. Esse chacoalhão da água salgada bateu na verve punk/hc (nostalgia, lembrança, esquecimento?) e pariu o conjunto.
Assim como a água do mar tem cada vez mais elementos na sua composição, o som deles também é recheado das mais diversas influências. Tem aquelas mais relacionáveis, como a própria surf music, o garage rock e aquele pé na Tropicália e escola Mutantes. Tem também aquelas referências mais joviais e “maneirosas” como La Luz, Allah-Las, talvez Boogarins e The Growlers… E aquelas mais entranhadas, como as latinidades (no clipe bem expostas) e as escalas que chegam lá no Oriente Médio.
Não dá pra escapar da observação de um toque místico no pacote todo (desculpa, “Gurussases”, eu sei que vocês queriam fugir um pouco disso), mas isso realmente não é demérito, nem problema. A gente precisa desse escape de fé e fantasia nos dias de hoje. E como diriam aqueles que, aí sim, são jovens místicos: É SOBRE ISSO, E TÁ TUDO BEM.
O single Marolar
Eu gostei do som, eu gostei do clipe (que reúne imagens do arquivo do Lucas, que coleciona vídeos familiares de seres humanos que ele não conhece), acredito que quem gosta de surfar e de vez em quando se cansa do entorno da atividade surfística também vai gostar, os jovens também vão curtir e os surfões também podem se relacionar.
O todo d´Os Guru Sá lembra muita coisa que frequentemente esqueço em mim (e com certeza muita gente vai sentir isso) e me causa uma certa nostalgia de mim mesmo.
Muitas vezes, pra fazer as coisas você só precisa fazer a porra das coisas. Se existe um lugar pra ser um pouco a cada dia, é a Internet de hoje. E, nessa teia em que a gente se encontra, o agora dura 24 horas, as músicas vêm em ondas como o mar e você deveria escutar o som que eles lançaram aqui:
E assistir ao clipe aqui: