Que o ano de 2020 deveria nunca ter existido na história da humanidade, talvez estejamos todos de acordo. Um vírus desconhecido, uma pandemia, uma recessão global, mortes, perdas e retrocessos em tantas áreas, que fica difícil não assumir que este é o ano que ninguém desejou. Mas e no que diz respeito ao surf, tema que este podcast joga na mesa semanalmente? Agora que atingimos a primeira metade dessa catástrofe generalizada chamada 2020, aparentemente temos, na prática, uma maioria voltando ao surf. Portanto, é chegada a hora de tentar entender o que é possível fazer com o resto do ano, surfisticamente falando.
Entre proibições, permissões, fechamento e abertura de praias, foram tantas e tão desencontradas as informações, que é raro encontrar alguém que não esteja confuso com o que é correto e responsável na prática do surf atualmente. Um exemplo dos mais banais é o uso obrigatório de máscara. Qual a forma correta de aplicar a regra ao surf e ao trajeto percorrido na ida e na volta da praia, ninguém sabe. E esta, amigos, é apenas uma dúvida sem resposta entre tantas questões que pulsam diariamente nas mentes surfísticas.
No surf diversão
Para parte dos surfistas recreativos, talvez o momento represente a realização do desejo que havia sido reprimido durante os últimos meses. Para outros, a vida segue como se nada estivesse acontecendo. Mas para a maioria de quem busca uma postura consciente diante de si mesmo e do outro, as coisas podem estar realmente confusas. Como lidar com isso sem deixar de aproveitar o momento?
E as surf trips? Eticamente falando, não representa uma necessidade que justifique o deslocamento e o risco de se tornar responsável pelo alastramento do vírus enquanto o esforço generalizado é para contê-lo. Por outro lado, destinos tradicionais já começam a fazer anúncios com imagens perturbadoras de suas equipes completamente prontas e paramentadas para receber os hóspedes. Quem se sentiria tranquilo nesta situação surreal de suposto prazer, realização e relaxamento, é a dúvida que paira no ar.
Na competição
Já do ponto de vista do surfista profissional, também não há unanimidade de condição. Cada um tem sua realidade, mas é certo que o cancelamento dos eventos do CT e do QS pela WSL tem impactos relevantes, tanto financeiramente quanto psicologicamente e tecnicamente falando. Meia dúzia que detém o estrelado viu seus gordos rendimentos revistos em alguns casos, mas vive uma espécie de ano sabático. Há tranquilidade financeira suficiente para se manter mentalmente são e em busca de boas ondas para tentar manter o ritmo de surf. Estes perdem, na prática, o foco competitivo que, sabemos, alimenta uma parte predominante de suas identidades. Poucos, confirmados em pelo menos um dos eventos da pré-temporada organizada pela WSL até agora, conseguirão se manter em uma mínima atividade competitiva.
Há aqueles que não gozam da mesma fama e apelo comercial, mas permanecem seguros. São os atletas do CT que, em muito, tiveram seus valores de patrocínio reduzidos, mas contam com o pagamento pela WSL do valor mínimo de premiação por cada etapa cancelada. Com o dólar a mais de R$ 5, trata-se de uma condição razoável para atravessarem tranquilos este ano estranho.
E os atletas do QS?
Já os atletas que se dedicam às competições do QS, definitivamente, ficaram em maus lençóis. Sem eventos para se manterem ativos e buscando sustentar suas carreiras profissionais, perdem argumentos que justifiquem o investimento de patrocinadores. Dos poucos patrocinados, a maioria teve pagamentos congelados ou, na melhor das hipóteses, bem reduzidos. Estes e toda a maioria com bico branco também perdem a chance de transformar possíveis premiações conquistadas em investimento próprio na continuidade da saga em busca de classificação entre os tops. O impacto, para uma grande parcela, pode significar a impossibilidade de seguir sonhando com o grande objetivo. Muitos, agora, buscam sobreviver focando em outras atividades.
Estas e outras considerações fazem Junior Faria, Carolina Bridi e Raphael Tognini viajarem pela realidade que espera a todos na segunda metade de 2020. Se você tem se perguntado como aproveitar o surf no resto do ano que chegou a ser dado como perdido, dá o play e vem analisar a situação neste episódio do Surf de Mesa:
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