Fernando Winck Ziliotto é o multiverso existencial onde surf, arte, caos e gentileza encontram a via de canalização perfeita de expressão ao mundo. A arte do Alucinandinho você provavelmente já conhece. Aqui nessas páginas, você conhecerá o Nandinho.
Texto por Carolina Bridi | Fotos por Raphael Tognini
– Vamos aqui por cima, os cavalos estão lá. Sou amigo deles desde pequeno.
– Vamos, Camila.
Como o cachorro, cadela no caso, não ia, o cara resolveu entrar no papo com Camila e Nandinho. “Descobriu que eu tinha 16, tava ali naquela situação e chamou pra ir com ele onde tava mais uma raça do surf”. Pegou as coisas e saiu zarpado dali com Camila e Marcos Sifu para o pico em Puerto Escondido onde estavam também Jessé Mendes, Junior Faria, Alejo Muniz, Thiago Camarão e mais uma galera que costumava viajar para lá na mesma época.
A CAVERNA
“Eu realmente vivi o surf por muito tempo só da pintura. A pintura me proporcionou o surf.”
“Não consigo viver sem surfar e pintar. Ou criar. Eu não pinto porque eu quero. Eu pinto porque eu preciso.”
Quando entendemos que a arte que expressa também vem do surf, voltamos ao início. De repente, estamos à porta da caverna e parece que o que há de significativo para o mundo é exatamente aquilo que há dentro de Nandinho.
“Pintar é muito forte, sabe? Às vezes o cara chora, viaja nos pensamentos bons, ruins, vai… E tem que lidar com isso. É doido. É emocionante, sabe? É uma loucura. É incrível. A viagem pra tudo que é lado, assim, passado, presente, futuro, espaço, tudo… sabe?”
Acho que sei. Tento saber. Mas a realidade é que poucos sabem porque para se permitir acessar sentimentos de forma tão direta assim é preciso muita, muita coragem. Essa coragem, provavelmente, Nandinho encontra na companhia da legião que desenha. Os rostinhos que o acompanham desde antes de saber ler e escrever. Estas tantas cabeças. Porque Nandinho pensa. Muito. Dormindo, acordado. “Às vezes é muito difícil desligar. Tô sempre pensando no que que eu vou fazer, o que que eu vou pintar…aaaahhhhh”. Pensa tanto ou mais quanto a quantidade de cabeças que consegue fazer seriam capazes de pensar.
LADO DE DENTRO
LADO DE FORA
“A fé, não sei, a energia, acho que leva a gente até aonde a gente quiser, né? Todo dia da minha vida, não sei durante quantos anos eu surfei e pintei todo dia, todo dia, toda hora. Eu pintei 10 pranchas, 15 por dia.”
A PORTA
“Eu nunca vou chegar perto da beleza da natureza, então eu nem perco meu tempo. A minha ideia é expressar, sei lá, com o mínimo possível, assim, de uma forma que seja… Que eu mesmo tô descobrindo isso, sabe?” Sente-se só uma ferramenta que consegue pegar uma energia para expressar.
“O surf eu consumo, eu vivo. Minha alma ama isso. A arte é maior que eu.”
Publicado originalmente na edição impressa nº 02 da Revista Flamboiar. Para saber mais, clique aqui
Fernando Winck Ziliotto é o multiverso existencial onde surf, arte, caos e gentileza encontram a via de canalização perfeita de expressão ao mundo. A arte do Alucinandinho você provavelmente já conhece. Aqui nessas páginas, você conhecerá o Nandinho.
Texto por Carolina Bridi | Fotos por Raphael Tognini
– Vamos aqui por cima, os cavalos estão lá. Sou amigo deles desde pequeno.
– Vamos, Camila.
Como o cachorro, cadela no caso, não ia, o cara resolveu entrar no papo com Camila e Nandinho. “Descobriu que eu tinha 16, tava ali naquela situação e chamou pra ir com ele onde tava mais uma raça do surf”. Pegou as coisas e saiu zarpado dali com Camila e Marcos Sifu para o pico em Puerto Escondido onde estavam também Jessé Mendes, Junior Faria, Alejo Muniz, Thiago Camarão e mais uma galera que costumava viajar para lá na mesma época. Tinha muito brasileiro em Puerto nessa temporada. Surfistas, fotógrafos, alguns no freesurf, outros gravando filme para patrocinador, outros só de passagem. Quem o tirou da roubada foi justamente o cara que tinha como sua principal referência desde a icônica fotografia de Minduim, em que Sifu dá um aéreo vestindo uma máscara de palhaço. Nandinho, já com um pequeno patrocínio, em busca de se tornar surfista profissional e do nada se vendo em meio ao rolê dos sonhos, surfou tanto que deslocou o ombro. O médico disse que não voltaria a surfar, mas três meses depois, já estava de volta na água, e o que sobrou de tudo aquilo foi um pino para segurar o ombro no lugar até hoje e uma direção mais clara do que queria na vida. Enquanto estava machucado, pintou uma prancha. A sua, depois outra, de outros e outros. Depois um quadro. Quando viu, tinha alguém perguntando quanto custava e ele estava vendendo uma série por um valor digno de artista respeitado. Ok. Aqui saltamos alguns longos anos em uma única frase. Nem tudo é fácil assim como parece.
A CAVERNA
“Eu realmente vivi o surf por muito tempo só da pintura. A pintura me proporcionou o surf.”
A família tinha uma rede de papelaria que vendia material para artistas e as avós, exímias pintoras da técnica mais tradicional, a pintura a óleo. O ambiente da arte, então, não poderia ser mais familiar. Os cheiros, papéis, tintas, canetas. Este é seu habitat natural. Assim como o surf. Filho de surfistas, cresceu com pai e mãe o ensinando a surfar da maneira que acha mais bonita: “(ensinaram) com respeito, educação, a se conectar, pedir permissão, se importar com os outros, a dividir.” Isso fez, segundo ele, com que tivesse o surf como mais que uma religião. “É minha família, como um arroz quando tu sente o cheiro da cebola, assim, não sei. Quando eu tô na água, eu tô com meu pai e com a minha mãe, tô na minha família, sabe? Algo nesse tipo de sentimento.” Por isso, não tem como separar uma coisa da outra quando se fala no surfista e no artista. Já é, não tem como dividir. “Os dois, eu sou isso.” Não consegue dizer qual é o mais importante, mas entende que talvez para o mundo sua arte seja mais significativa, já que o surf é algo íntimo, que faz para si mesmo.
“Não consigo viver sem surfar e pintar. Ou criar. Eu não pinto porque eu quero. Eu pinto porque eu preciso.”
Quando entendemos que a arte que expressa também vem do surf, voltamos ao início. De repente, estamos à porta da caverna e parece que o que há de significativo para o mundo é exatamente aquilo que há dentro de Nandinho.
LADO DE DENTRO
“Pintar é muito forte, sabe? Às vezes o cara chora, viaja nos pensamentos bons, ruins, vai… E tem que lidar com isso. É doido. É emocionante, sabe? É uma loucura. É incrível. A viagem pra tudo que é lado, assim, passado, presente, futuro, espaço, tudo… sabe?”
Acho que sei. Tento saber. Mas a realidade é que poucos sabem porque para se permitir acessar sentimentos de forma tão direta assim é preciso muita, muita coragem. Essa coragem, provavelmente, Nandinho encontra na companhia da legião que desenha. Os rostinhos que o acompanham desde antes de saber ler e escrever. Estas tantas cabeças. Porque Nandinho pensa. Muito. Dormindo, acordado. “Às vezes é muito difícil desligar. Tô sempre pensando no que que eu vou fazer, o que que eu vou pintar…aaaahhhhh”. Pensa tanto ou mais quanto a quantidade de cabeças que consegue fazer seriam capazes de pensar.
LADO DE FORA
“A fé, não sei, a energia, acho que leva a gente até aonde a gente quiser, né? Todo dia da minha vida, não sei durante quantos anos eu surfei e pintei todo dia, todo dia, toda hora. Eu pintei 10 pranchas, 15 por dia.”
A PORTA
“Tô sempre tentando fazer parte da natureza. Ahhh… Sou da natureza. Minha busca é cada vez maior me tornar natureza. Fazer parte dela, assim. Não usar ela, né? Sei lá, tipo… Ser amigo dela, assim. Tá no círculo dela.”
“Eu nunca vou chegar perto da beleza da natureza, então eu nem perco meu tempo. A minha ideia é expressar, sei lá, com o mínimo possível, assim, de uma forma que seja… Que eu mesmo tô descobrindo isso, sabe?” Sente-se só uma ferramenta que consegue pegar uma energia para expressar.
Acho que o ser humano meio que sai um pouco do ecossistema, e o que quer é saber da Terra, do que o universo quer. Não o que querem no YouTube, no Instagram.
“O surf eu consumo, eu vivo. Minha alma ama isso. A arte é maior que eu.”