Por muito tempo, tênis foram só tênis. Borracha, cadarço, lona e um nome de modelo genérico. Mas, nas ruas do skate dos anos 90 e 2000, algo mudou. Um novo ritual emergiu da fricção entre asfalto e identidade: o pro model. Não era só produto, era símbolo. Quando um skatista tinha seu nome gravado na língua de um calçado, não era contrato. Era consagração. A cultura dizia, com sola e estilo: “esse cara virou linguagem”.
Esse gesto nascido longe das vitrines e forjado nos zines xerocados, nos VHS compartilhados entre crews, nos bancos de praça e nas lojas core sempre foi sobre mais do que performance. Era sobre vida e identidade pessoal. O tênis como extensão do corpo e da história de quem o assina.
Agora, em 2025, a Vans segue esse ritual. Curren Caples, nome híbrido da nova geração que dissolve fronteiras entre o surf e o skate, ganha seu primeiro pro model. E isso importa mais do que parece.
Curren dissolve fronteiras entre mar e rua
Curren não é apenas mais um skatista. Ele é um um reflexo fiel de suas raízes e atitude californiana e personagem que habita a interseção entre ondas e concreto com muita naturalidade. Criado em Ventura, Califórnia, batizado em homenagem ao lendário Tom Curren, ele surfou antes mesmo de aprender a andar de skate. Cresceu entre a espuma e o shape, moldando um estilo que mais parece uma linha contínua entre dois mundos que, por décadas, vêm sendo tratados como separados apesar das origens.
Seu skate é leve, fluido, quase líquido. Já foi descrito pela revista Stab como “um dos poucos skatistas que surfam como se estivessem esculpindo o vento”. Uma comparação direta com nomes como Craig Anderson e Ryan Burch, que tratam a prancha como uma extensão do próprio corpo. Curren não alterna entre realidades. Ele dissolve as bordas.
Performance e identidade
É justamente isso que a Vans decidiu colocar no centro da vitrine. O novo modelo, batizado simplesmente de CURREN, é mais do que um tênis funcional. Ele é a materialização de um estilo de vida que já não se define por rótulos. Desenvolvido com tecnologia vulcanizada, DNA dos tênis da Vans, o pro model combina sola personalizada com a icônica Sidestripe da Vans e otimizada com o composto SICKSTICK™, reforços DURACAP™ nos pontos de maior desgaste do cabedal, e palmilha POPCUSH™, para resistência, tração e absorção de impacto em alto nível. É um tênis funcional, resistente e direto ao ponto, exatamente como Curren gosta e precisa para andar de skate.
“Cresci andando de Vans e nunca imaginei que teria um tênis com meu nome”, disse Curren. “É uma sensação muito especial. Fazer parte da história de skatistas que assinaram seus próprios modelos pela Vans é realmente uma honra.”
Mas o que torna esse lançamento ainda mais interessante é sua leitura estética. Fugindo do marketing tradicional, a campanha foi filmada e fotografada por Gray Sorrenti e Grant Yansura, e satiriza os comerciais de perfumes. Uma escolha irônica e sofisticada. Lendas como Ray Barbee, Geoff Rowley e Omar Hassan também aparecem na campanha, reforçando a linhagem e o respeito envolvidos.
O CURREN chega hoje às lojas e ao site hoje, dia 15 de maio, com duas combinações principais: vermelho e branco, e cinza. Além da versão Curren VCU preta, que também está em skateshops selecionadas desde o começo do mês.
Mais do que um novo modelo, esse tênis é um documento. Uma peça física que cristaliza um momento cultural: o retorno da reverência ao pro model como signo, e não só como produto. É sobre um skatista que não se encaixa em estereótipos, e uma geração que também não quer mais se definir por uma só superfície.
O lançamento do CURREN é, no fim das contas, uma reaproximação entre surf e skate. Uma revalorização daquilo que nos faz híbridos e uma lembrança de que algumas pessoas não calçam tendências, calçam histórias.