Por isso, esse episódio do Surf de Mesa traz um levantamento de dados sobre estrutura dos surfistas profissionais que disputam o CT e o QS, e uma análise que tenta responder as seguintes perguntas: A carreira de surfista profissional ainda existe nos moldes em que foi formada? E continuará existindo como a conhecemos? Ou vivemos um momento de transformação sem volta?
Afinal, qual é a estrutura dos surfistas brasileiros para competir o circuito mundial?
Se você quer saber quais as conclusões dessa análise, dá o play e vem com a gente:
Com e sem patrocínio
Levando em conta o ranking masculino do CT na primeira semana de 2021, há 11 surfistas brasileiros entre os 34 da elite. Destes, só dois estão sem patrocínio principal – sem marca ocupando o bico da prancha. Dos nove com adesivo no bico, cinco são patrocinados por marcas gringas. Ou seja, mais da metade não é patrocinada por empresas brasileiras.
Já entre os top 100 do QS, são 21 surfistas brasileiros. Destes, quatro também estão no CT, visto que o formato da WSL permite aos surfistas da elite continuarem disputando etapas de qualificação. Em outras palavras, é permitido que surfistas da “primeira divisão” continuem disputando etapas da “segunda divisão”. Neste caso, para fins de comparação sob o viés de estrutura de patrocínio dos surfistas que disputam o QS, isolamos os já classificados no CT. Assim, temos 17 surfistas brasileiros do top 100 que estão, atualmente, dedicados com exclusividade ao ranking de qualificação. Destes 17, dez têm patrocínio principal e sete estão com o bico branco. Dos dez patrocinados, oito têm suporte de marcas nacionais.
Isso significa que temos um percentual maior de surfistas sem patrocínio no QS do que no CT. Somado ao fato de que no CT 55% dos patrocínios são gringos enquanto no QS esse número cai para 20%, isso comprova que marcas gringas, as quais abocanham a maior fatia financeira dos lucros do mercado de surfwear no Brasil, só olham para o surfista brasileiro quando ele já explodiu.
Pode parecer um reflexo até óbvio, se você se sente confortável no papel de nação inferior e prefere não questionar os motivos estruturais pelos quais surfistas brasileiros ainda são tratados como haoles na cena mundial do surf.
É complicado, em um país como o Brasil, que 80% dos surfistas em busca de uma vaga no CT sejam patrocinados por marcas nacionais, visto que estas são muito menores do que as gringas. Mesmo tendo um poder infinitamente inferior dentro do mercado, algumas marcas nacionais estão abraçando financeiramente os atletas dentro de suas possibilidades. Mas os dados obtidos refletem o que é sentido no dia a dia pelo surfista brasileiro que segue carreira profissional:
Marcas nacionais como tábua de salvação para a nova geração de surfistas e um cenário de guerrilha diante de contas que não fecham para bancar todos os custos envolvidos na cara estrutura de competição mundial.
Se estes dados (brasileiros patrocinados: 80% no CT e 60% no QS) ainda te levam a crer que o cenário não é de terra tão tão arrasada quanto imaginava, é preciso lembrar que o critério definidor de patrocínio – adesivo no bico – é um argumento frágil. A diversidade de acordos entre marca e atleta que isso pode representar traz uma questão subjetiva difícil de mensurar sem conhecer valores e condições reais de apoio que cada surfista está recebendo.
Na ponta do lápis, muito provavelmente fazer a contabilidade de cada atleta nos levaria a descobrir que muitos estão pagando para competir. Estamos loucos para ir mais a fundo nessa investigação!
Mas isso demanda tempo e dedicação que nem sempre conseguimos por limites estruturais. Por isso, se você quer conhecer o surf brasileiro cada vez mais, assim como nós queremos, você pode fazer parte do processo apoiando financeiramente conteúdos jornalísticos de verdade sobre a nossa realidade.
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