Reportagem: Junior Faria
Texto: Carolina Bridi
Foto de capa: Ian Gouveia
por Brent Bielmann/WSL

 

Esta semana a WSL divulgou o calendário e novos formatos das etapas do Championship Tour a partir de 2026.

A temporada de 12 etapas começa em abril com a perna australiana e um número maior de mulheres, e termina em dezembro, com uma etapa final de pontuação turbinada de volta à Pipeline.

O corte de meio de temporada, que inicialmente acontecia na 5ª etapa e esse ano aconteceu na 7ª, agora passou para a 9ª e está sendo apelidada pelos surfistas do tour de ‘castigo’, já que quem não passa da temporada regular (9 etapas) para a pós-temporada (2 etapas) volta do gancho para a etapa final de 15 mil pontos em Pipe.

O fim do Final 5 e não só a volta, mas o fortalecimento e valorização do Pipe Masters deixaram todos felizes. O motivo do cantinho do castigo ainda é uma incógnita entre a galera, mas o que realmente não agradou foi a remoção da rodada não eliminatória e, com isso, o fim da repescagem.

Segundo o CEO da WSL, Ryan Crosby, os formatos atualizados trazem desafios maiores, visto que cada bateria traz consequências reais desde o primeiro dia. Com participação feminina expandida, picos icônicos e Pipe como ápice, ele disse que a ideia foi construir um tour que atenda melhor aos atletas e aos fãs.

Para saber se conseguiram atingir o objetivo, a Flamboiar foi ouvir o que pensam aqueles que são diretamente afetados: os profissionais do tour.

O polêmico corte

Em geral, a percepção é de que as mudanças são positivas. Mas com todos que conversamos, o fim do corte de meio de temporada foi a principal melhoria, especialmente por proporcionar maior oportunidade de adaptação aos atletas recém-chegados no circuito.

“Cinco etapas, ou até esse ano que foi sete, era muito injusto porque você sai de um circuito completamente distinto em que você só surfa marola de prancha pequena. Muitos deles nunca tiveram oportunidade de surfar ondas pesadas, e principalmente em competição, que é outro jogo”, afirma Jessé Mendes, ex-atleta do tour e hoje comentarista da WSL internacional. Edgard Groggia, o único rookie brasileiro de 2025, concorda:

“Esse ano foi bem corrido. Mal deu para entender as pranchas, pegar experiência nas ondas, e tudo isso conta muito. Ano que vem, que já não tem mais o corte, dá uma vantagem muito grande para os rookies.”

Para Alejo Muniz, boa parte das mudanças é um retorno às origens, o que deixa os atletas felizes, especialmente com o fim do corte. “É muito positivo, principalmente para quem está se classificando pela primeira vez.”

Alejo Muniz no Surf Abu Dhabi Pro | Foto: Thiago Diz/WSL

Alejo Muniz no Surf Abu Dhabi Pro | Foto: Thiago Diz/WSL

Surf x Negócios

Leandro Dora, o Grilo, que treina três atletas do tour – Luana Silva, Jack Robinson e Brisa Hennessy, contou que uma das principais exigências dos atletas nas reuniões que aconteceram nos últimos anos era justamente o fim do corte. Com a maioria contra, ele acredita que a WSL buscou uma fórmula que tornasse possível mexer no corte sem prejudicar a saúde financeira da empresa.

Tanto que, sem entender o motivo do gancho de duas etapas a partir da 10ª parada, ele cogita que o formato de pós-temporada tenha sido criado para chegar ao ajuste necessário em custo de eventos para fechar as contas da temporada. “Quanto mais atleta tem, mais tempo precisa para realizar o evento”.

Menos atletas também significa menos custo de premiação. Tati Weston-Webb lembrou que a chance de todos os surfistas participarem quase a temporada inteira reflete não só em oportunidade de experiência e adaptação para quem acabou de se classificar, mas também em maior receita de premiação ao participar de nove do apenas cinco eventos. “É uma mudança muito boa para os atletas que investiram tantos anos na carreira para conseguir chegar ao ápice do circuito mundial”, completa Jessé.

A pós-temporada

Para Ian Gouveia, o ideal seria voltar completamente ao formato tradicional.

“A gente está brincando que fica de castigo duas etapas, depois volta. Foi algo esquisito, mas ok. Não concordo, por mim todo mundo compete o ano inteiro, normal.”

Samuel Pupo também não entende o motivo de tirar a oportunidade de duas etapas para a parte de baixo do ranking, mas gosta da etapa final com mais pontos porque isso cria chances de subir mais posições depois de duas etapas não competidas.

Isso por que, apesar de estranha, a pós-temporada traz em contrapartida a etapa final valendo 15 mil pontos, o que Grilo considera um bônus. “É legal jogar essa emoção para o evento de Pipeline, que é uma onda icônica no circuito mundial e na história do surf”.

Ian aponta que isso realmente aumenta a probabilidade de o título mundial ser decidido na última etapa e adiciona uma carga maior de emoção ao circuito mundial. “Com certeza é uma ideia melhor do que o Finals”.

Tatiana Weston-Webb em Pipeline | Foto: Tony Heff/WSL

Tatiana Weston-Webb em Pipeline | Foto: Tony Heff/WSL

Título definido pelo ranking

A volta da definição do título pelo ranking agradou de forma unânime porque concentrar a decisão na condição de um único dia prejudica quem passou um ano inteiro fazendo seu trabalho. “Era bem injusto ser tudo decidido em um dia só o que o cara fez o ano inteiro”, diz Alejo.

Jessé lembra que muitas coisas podem influenciar naquele único dia de competição e não dá para determinar o título de um ano inteiro de batalha prejudicando alguém que foi mais consistente e constante em todas as condições e contra todos. “(O ranking) é mais justo para definir um campeão mundial. Você está competindo o ano inteiro, passa por diversas condições, então realmente o melhor do ano acaba sendo consagrado o campeão”, reforça Jessé.

O calendário

Alejo elogiou o calendário por enxergar uma logística mais adequada aos atletas. “Segue um cronograma melhor. Não vai de um lado para o outro do mundo, que nem um maluco. Vem da Austrália, depois El Salvador, Brasil… vai descendo, tem uma lógica melhor.”

Samuel Pupo comemora a volta ao tradicional início de temporada com a perna australiana, especialmente pelas consequências que Pipe pode ocasionar. “Sempre foi aquele dream tour que eu cresci sonhando participar.”

Ele destaca a ausência de alguns surfistas durante as temporadas por lesões em Pipeline logo de partida e conta que esse ano quase ficou de fora da etapa após bater a cabeça e, por pouco, não perder a consciência embaixo d’água.

“Então não acho (Pipe) um bom início para a temporada. Está todo mundo com muita fome e é um lugar perigoso. Fico feliz com o retorno na Austrália e gostei muito do calendário.”

Samuel Pupo em Abu Dhabi | Foto: Manel Geada/WSL

Samuel Pupo em Abu Dhabi | Foto: Manel Geada/WSL

O grande ponto negativo

O único ponto mencionado por todos como algo negativo foi o fim da repescagem diante de tantas variáveis inerentes ao surf, como baterias com falta de oportunidade de onda na bateria, por exemplo. “Se algum detalhe acontecer, e a gente sabe que são infinitos, para não render bem num dia, (o surfista) não vai ter uma segunda oportunidade para poder render”, aponta Grilo.

“A gente está lidando com o mar, a probabilidade de alguém cair numa bateria com mar ruim é muito grande, e se esse cara perder, vai ser a única chance que ele teve naquele campeonato”, observa Alejo, exemplificando com experiência própria.

Seu primeiro bom resultado desse ano, em El Salvador, partiu de uma primeira bateria praticamente sem onda. “Eu perdi essa bateria, mas passei na repescagem, terminei em nono e foi um baita campeonato para mim. Se fosse no sistema novo, eu não teria a chance de me reerguer no evento surfando em dias melhores.”

Economia de tempo

No formato antigo, Round 1 e 2 totalizam 16 baterias. No novo formato, são apenas quatro baterias para chegar ao Round de 32. Vendo o lado positivo, Grilo aponta a economia de tempo de campeonato para gerar maiores chances de aproveitar um swell. Com overlap hit, que pode começar já no Round de 32 dependendo da condição do mar, há maior aproveitamento dos dias realmente bons de surf.

“O que a gente quer ver é o atleta de alta performance performando na melhor condição possível.”

Ele acredita que esse ano algumas decisões favoreceram o final de semana em detrimento da previsão. “Tiveram alguns dias de ondas boas que acabaram não rolando o campeonato. A gente sabe que é uma tarefa difícil porque o mar, mesmo com previsão de onda, acaba às vezes surpreendendo, tanto positivamente quanto negativamente.”

Edgard Groggia no Lexus Pipe Pro | Foto: Brent Bielmann/WSL

Edgard Groggia no Lexus Pipe Pro | Foto: Brent Bielmann/WSL

Equilíbrio de interesses

Diante disso, a repescagem, segundo Ian, permitia um certo equilíbrio de interesses.

“A gente é sacrificado naquele dia ruim de onda, mas pelo menos ninguém perde e tem oportunidade no outro dia.”

Nesse novo formato, Ian reconhece que menos baterias aumenta a probabilidade de melhores mares. Para isso, ele destaca que dependem da WSL para garantir o surf realmente nos melhores dias de onda.

Grilo espera que a previsão do mar e as decisões baseadas em boas ondas esteja dentro dos critérios dessa nova fórmula acima de tudo, independente do público, da audiência e do que é melhor para o negócio: “encaixar finais em final de semana”, aponta.

Toma lá, dá cá

Alejo sente o fim da repescagem como algo tão ruim quanto o superado Final 5.

“O sentimento que eu fiquei foi assim: a gente vai tirar o corte e o Final 5, a gente vai dar isso de volta para vocês, mas em troca a gente vai tirar a repescagem. Ficou meio que uma troca. A gente dá isso, mas vai tirar isso, sabe?”

Apesar desse sentimento, no geral Alejo acha que as trocas foram bem positivas para os atletas, enquanto Ed enxerga um significado importante nisso tudo: “Eles conseguiram ouvir os atletas.” Conversas continuam acontecendo

Jessé Mendes em Saquarema | Foto: Raphael Tognini/Flamboiar

Jessé Mendes em Saquarema | Foto: Raphael Tognini/Flamboiar

Calendário da temporada 2026

Temporada regular

36 homens e 24 mulheres

Etapa 1 • Bells Beach, Victoria, Austrália • 1 a 11 de abril
Etapa 2 • Margaret River, Austrália Ocidental, Austrália • 17 a 27 de abril
Etapa 3 • Snapper Rocks, Queensland, Austrália • 2 a 12 de maio
Etapa 4 • Punta Roca, El Salvador • 28 de maio a 7 de junho
Etapa 5 • Saquarema, Rio de Janeiro, Brasil • 12 a 20 de junho
Etapa 6 • Jeffreys Bay, África do Sul • 10 a 20 de julho
Etapa 7 • Teahupo’o, Taiti, Polinésia Francesa • 8 a 18 de agosto
Etapa 8 • Cloudbreak, Fiji • 25 de agosto a 4 de setembro
Etapa 9 • Lower Trestles, San Clemente, Califórnia, EUA • 11 a 20 de setembro*

Pós-temporada

24 homens e 16 mulheres | Contam para classificação os melhores 7 de 9 resultados

Etapa 10 • Surf Abu Dhabi, Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos • 14 a 18 de outubro
Etapa 11 • Peniche, Portugal • 22 de outubro a 1º de novembro

Etapa final

Todos competem o Pipe Masters
Ranking final e títulos mundiais definidos pelos melhores 9 de 12 resultados

Etapa 12 • Banzai Pipeline, Havaí, EUA • 8 a 20 de dezembro

Peniche, Portugal | Foto: Margarita Salyak/WSL

Peniche, Portugal | Foto: Margarita Salyak/WSL

Formato sem repescagem

Veja como ficam os formatos de baterias após o fim do round não eliminatório.

Etapas 1 a 9

34 homens e 22 mulheres qualificados + 2 wildcards do evento em cada categoria.
Formato Masculino

Round 1 | 4 baterias frente a frente compostas pelos surfistas ranqueados entre 29 e 34 + dois wildcards do evento.
Round 2 | 16 baterias frente a frente compostas pelos surfistas ranqueados entre 1 e 28 + vencedores do Round 1. Vencedores avançam.
Round 3 | 8 baterias frente a frente, compostas pelos vencedores do Round 2.
Quartas de final, semifinais e final seguem normalmente.

Formato Feminino

Round 1 | 8 baterias frente a frente, compostas por 14 surfistas ranqueadas entre 9 e 22 + duas wildcards do evento. Vencedoras avançam.
Round 2 | 8 baterias frente a frente, compostas pelas ranqueadas de 1 a 8 + vencedoras do Round 1.
Quartas de final, semifinais e a final seguem normalmente.

Pós-Temporada

Etapas 10 e 11
22 homens e 14 mulheres qualificadas + 2 wildcards por evento em cada categoria.

Formato Masculino

Round 1 | 8 baterias frente a frente, compostas por 14 surfistas ranqueados entre 9 e 22 + wildcards do evento. Vencedores avançam.
Round 2 | 8 baterias frente a frente, compostas pelos melhores ranqueados entre 1 e 8 e os vencedores do Round 1.
Quartas de Final, semifinais e final seguem normalmente.

Formato Feminino

Round 1 | 8 baterias com 16 surfistas pré-classificadas.
Quartas de final, semifinais e final seguem normalmente.

Pipe Masters

Etapa 12
34 homens e 22 mulheres qualificados + 2 wildcards do evento em cada categoria.

Formato Masculino

Round 1 | 4 baterias frente a frente, compostas por surfistas ranqueados entre 29 e 34 +2 wildcards do evento.
Round 2 | 8 baterias frente a frente, compostas pelos vencedores do Round 1 + 12 surfistas ranqueados entre 17 e 28.
Round 3 | 8 baterias frente a frente, compostas pelos vencedores do Round 2 + 8 surfistas ranqueados entre 9 e 16.
Round 4 | 8 baterias frente a frente, compostas pelos vencedores do Round 3 + 8 surfistas ranqueados entre 1 e 8.
Quartas de final, semifinais e final seguem normalmente.

Formato Feminino

Round 1 | 8 baterias frente a frente, compostas por 14 surfistas ranqueadas entre 9 e 22 + 2 wildcards do evento. Vencedoras avançam.
Round 2 | 8 eliminatórias com ranqueadas entre 1 e 8 + vencedoras do Round 1.
Quartas de final, semifinais e final seguem normalmente.