É uma praia afastada de tudo. E lá as ondas são sempre melhores. É raro, mas quando acontece é especial. Quem vive por aqui diz que onda melhor só se encontra em outro país.
Quem chega desavisado se engana com a tranquilidade. Às vezes, parece mais um lago do que mar. A praia é pequena. Pouca areia, muita pedra, mato e árvore.
No caminho têm cocô de cachorro e buraco na rua. Também tem gente que mora de frente pro mar. Mas se esconde atrás de muro alto.
Fica no final da avenida. Depois do último ponto de ônibus. Lá, os tubos são iguais aos da revista. Como nos filmes de surfe com som de rock e cheiro de parafina.
É uma euforia só quando o vento fica terral! A bicicleta enferrujada, que pedala e faz barulho pela vizinhança, voa pela rua. A corrente cai se pedalar muito forte. Os dedos dos pés, descalços, abraçam o pedal.
Uns dizem que só funciona uma vez por ano, no inverno. Outros juram que nunca viram o espetáculo. Eu jurava que era o melhor lugar do mundo.
Aí fui viajar.
Conheci as ondas da revista. Dos filmes.
E voltei à praia no final da avenida. Depois do ponto de ônibus.
Nunca mais vi um tubo lá.