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"Talvez daqui a 2.000 anos alguém consiga surfar essa onda"

Foi o que Pat Curren disse a Fred Van Dyke na década de 1950, sentado na areia da praia que era então conhecida como Banzai Beach, hoje Banzai Pipeline.

Ninguém surfou Pipeline até o início da década de 1960. Waimea e Sunset eram as jóias da costa norte de Oahu e era lá que os mais corajosos testavam o limite do surfável. O primeiro a surfar Pipe com sucesso foi Phil Edwards em 1961, registrado pelas lentes do filmmaker Bruce Brown.

Foi dirigindo de volta para casa depois desta sessão pioneira que Mike Diffenderfer disse que deveriam chamar aquela onda de Pipeline, devido ao seu formato perfeitamente cilíndrico. *Pipeline quer dizer tubulação ou cano em português, dependendo do contexto.

Com o passar dos anos a técnica de entubar e as pranchas evoluíram. Surfistas como Butch Van Artsdalen e Jock Sutherland se destacaram como especialistas em Pipeline e a mídia especializada da época passou a devorar aquela onda absurdamente fotogênica.

Mas foi Gerry Lopez, no início da década de 1970, que se afirmou como “Mr. Pipeline" ao combinar a técnica de se entocar fundo nos tubos com um estilo impecável. Lopez se tornou a epítome do soul surf por demonstrar graça e bravura ao domar aquela fera com uma postura quase Zen.

O primeiro Pipe Masters aconteceu em 1971, organizado pelo surfista profissional e bom moço Fred Hemmings: um ativista da profissionalização do esporte em um período em que competição de surf causava náuseas aos auto-proclamados surfistas de alma. 

Hemmings organizou um campeonato com seis surfistas convidados para uma única bateria de 1 hora de duração. Tudo criado e executado para se adequar a transmissão do evento pela televisão, em rede nacional nos Estados Unidos.  Fred convenceu a marca de bebidas Smirnoff a assinar um cheque de mil dólares como prêmio para o campeão.

Desde então o evento ganhou cada vez mais importância e com a criação do circuito mundial, Pipeline passou a ser a última etapa do ano onde o campeão mundial era coroado. Ser um Pipe Master, ou seja, vencedor da etapa, continua sendo quase um título a parte. Desde 1971, 38 surfistas conquistaram esse título. Dentre eles, apenas três brasileiros venceram lá: Adriano de Souza, em 2015, Gabriel Medina, em 2018 e Ítalo Ferreria em 2019.

Pipeline é umas das ondas mais fatais do mundo. Além de causar sérias lesões, uma vaca lá pode matar. A primeira vítima fatal que se tem registro foi o surfista peruano Joaquín Miró Quesada, o “Shigi”, que morreu em 5 de março de 1967 após bater forte na bancada.

Chumbinho ficou entre a vida e a morte e foi levado ao hospital inconsciente. A recuperação dessa lesão o tirou da temporada 2024 do CT.

O acidente grave mais recente aconteceu com o brasileiro João Chianca, em 3 de dezembro de 2023, quando ele abortou um drop para Backdoor e sofreu uma lesão na cabeça. 

A bancada rasa de Pipeline é formada por rocha vulcânica e em diversos pontos é recortada por ‘corredores' que se estendem por vários metros. No verão, quando não há ondas no North Shore, ela fica toda coberta de areia. Mas assim que os swells começam a mudar de direção no início do inverno as ondas ‘limpam’ a bancada e as ondas quebram perfeitamente só quando o reef está completamente livre de sedimento.

Pipe tem uma irmã temperamental e violenta chamada Backdoor: a direita tubular que dá as caras quando o swell vira para o quadrante oeste. Sim, a mesma onda tem dois nomes diferentes. Quando abre para a esquerda é Pipeline e quando abre para a direita é Backdoor. 

Há ondas ainda mais desafiadoras e também maiores sendo surfadas no mundo, hoje. Mas a importância de Pipe se mantém mesmo depois que o circuito mundial deixou de se encerrar lá. Sua beleza, potência e plasticidade são incomparáveis. Ela ainda é a onda no Hawaii que define quem você é como surfista, para o bem ou para o mal. Os pintores tem a Mona Lisa, nós temos Pipe.

Estrela negra

tipo mídia de surf, só que mais legal

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