série eco

Marulho: Uma rede para proteger o oceano

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Cata rede, clora rede, seca rede, costura rede, lava rede, carrega pra lá e pra cá. Fica com essa história, que vem na toada do barulho do mar

Foi um trabalho de verão na temporada de 2018 para 2019 que levou os oceanógrafos Bia e Lucas para Ilha Grande. Bia chegou como instrutora de mergulho e técnica em uma fazenda marinha. Mas o envolvimento cada vez maior com a comunidade e o território trouxe a ideia de transformar redes de pesca descartadas em novos produtos. Nascia a Marulho, que significa barulho do mar.

Seu Filhinho, hoje com 87 anos, foi o primeiro local a topar a ideia, e com seus saberes, surgiu o primeiro produto, a Redeco. O saquinho feito de rede de pesca descartada e costurada a mão carrega todo o conhecimento dos pescadores. Além de valorizar a cultura caiçara e gerar impacto financeiro direto para a comunidade através de uma nova fonte de renda, o negócio também tem impacto ambiental.

Toneladas de redes descartadas que costumam ter como destino final o fundo do mar são a causa da chamada pesca fantasma. Segundo o último estudo sobre o tema, de 2018, esta é a causa da morte de até 25 milhões de animais marinhos por ano só no Brasil. Desde o começo até hoje, a Marulho já interceptou mais de 6 toneladas de redes do descarte, dando a elas o destino do reuso e preservando a fauna marinha.

Em 2020, a pandemia frustrou planos de viajar para conhecer a realidade de outras comunidades costeiras e entender se o plano fazia sentido. Firmaram base ali mesmo, intensificando as atividades no momento em que perceberam maior necessidade da comunidade.

Investiram o que tinham para estruturar melhor as coisas, viram o e-commerce se desenvolver, receberam encomendas de empresas e trouxeram mais redeiros.

Ao conhecimento cultural da costura da rede, que já vinha com os pescadores, iam capacitando também aos conhecimentos necessários para a produção dos novos produtos, que surgiam naturalmente conforme pedidos dos próprios clientes.

No final de 2020, já eram oito locais na equipe.Bia e Lucas iam se virando também com outros trabalhos, ela com bolsa do mestrado, Lucas com meio período em um laboratório da região, enquanto tudo acontecia na casa deles.

Receberam apoio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade e há quatro meses ocupam a fábrica de sardinha, um espaço histórico que está passando por um momento de ressignificação ao apoiar iniciativas de impacto socioambiental locais.

"A Marulho era um quartinho da casa que a gente alugou, até o ponto que não era mais a Marulho que era na minha casa, era eu que estava dormindo na Marulho.

Tudo isso passa por muitos passos futuros, envolvendo reciclagem, novos produtos e modelo de negócio. Parece que o barulhinho desse mar está só começando.

Hoje com 21 trabalhadores na equipe, 17 na produção e quatro na gestão, além de dois marinheiros que dão suporte quando precisa, a Marulho tem como plano futuro tornar o ecossistema da produção e gestão local sustentável financeiramente pela própria comunidade para que possa seguir ampliando a capacidade de impacto, replicando para outros lugares.

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Fotos: Marulho

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