série eco
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Quase 20 anos atrás, quando Felipe Siebert surfou de longboard pela primeira vez e decidiu deixar de vez a pranchinha, estava decidido a seguir pelo caminho mais clássico possível na escolha do equipamento. Ali começou um caminho de busca pelo pranchão de características clássicas não só na hidrodinâmica, mas que remetesse às origens também na matéria-prima.
Com fotos de projetos de Tom Wegener e da Grain Surfboards como referência, comprou as madeiras, pegou máquinas emprestadas do pai e usou os conhecimentos do curso técnico em edificações para projetar e fazer sua primeira prancha oca. Foi surfar com ela e os amigos vieram pedir.
No começo, Siebert tinha zero pretensão comercial. A segunda, que fez para um amigo, segue firme e forte, rendendo surf até hoje, mais de 15 anos depois. Siebert tinha acabado de se formar em Biologia e ficou dividido entre os dois caminhos. Criou um site simples para testar a febre das pranchas e viu a procura crescer exponencialmente. Dali, até virar um negócio, foi um pulo.
Manteve-se durante um tempo exclusivamente nas pranchas ocas, ou hollow surfboards. Longs e fishs. Mas em uma viagem para a Austrália abriu novos conhecimentos quando visitou Grant Newbie e Tom Wegener. Na volta, uniu as duas referências para criar suas próprias pranchas revestidas.
Se antes estávamos falando de pranchas construídas 100% em madeira bruta com uma fina camada de resina no acabamento, agora estamos falando de pranchas com miolo de EPS revestidas por compensado e cortiça.
Na prática, Siebert calcula que ambos os métodos de fabricação reduzem em 50% o uso de materiais nocivos ao meio-ambiente ao substituir por soluções de matéria-prima natural.
"Ecologicamente, a prancha de madeira é menos nociva do que a prancha convencional. Mas sempre vai ter o impacto. O transporte da madeira, todos os processos, os resíduos. Ainda usa alguma fibra, alguma resina."
A formação em Biologia dão a Siebert a consciência de que ainda está longe de produzir algo sem impacto ambiental.
O uso de resina e fibra de vidro utilizado na laminação das pranchas ocas é 50% inferior ao das pranchas tradicionais. E os resíduos do EPS usinado para as revestidas são encaminhados pelo próprio fornecedor para aproveitamento e reuso em outras indústrias. Já o pó de madeira, puro, pode ser usado em composteiras e como adubo para jardim. O impacto de maior durabilidade das pranchas, por outro lado, reflete em um ciclo de consumo mais consciente.
Em sua oficina na Praia da Tereza, em Laguna, Santa Catarina, Felipe Siebert segue equilibrando arte e técnica em pranchas que um dia já foram premiadas pelas soluções sustentáveis geradas.
"Aparentemente as partes técnica e artística vão para lados opostos, mas sem uma ou sem a outra, não é possível fazer uma prancha."
Foto: Arquivo pessoal Felipe Siebert