Quando foi lançado, em 1968, o clássico do Cinema Marginal “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, refletia, nas relações entre personagens, sobretudo uma crítica ao cenário cultural, social, político e econômico da época. “Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha. Avacalha e se esculhamba”, diz a icônica frase do personagem que dá nome ao filme.

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Paulo Villaça e Helena Ignes em cena de “O Bandido da Luz Vermelha”

Foi o humor inteligente e debochado e a complexidade criada pelas referências utilizadas pelo criador desse clássico, que inspirou “O Surfista da Monoquilha Vermelha” – a saga de um personagem destinado a criar o contraponto no cenário pasteurizado que predomina no surf dos dias atuais. O que nasceu como contracultura tornou-se uma busca cega pela manobra mais alta, a bermuda mais leve e a nota mais alta, seja em pontos dos juízes ou likes do Instagram.

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Andrew Serrano e Alessandra Mari em cena de “O Surfista da Monoquilha Vermelha”

“O Surfista da Monoquilha Vermelha” veio dizer que o que importa, mesmo em tempos tão efusivos para o surf nacional, ainda é divertir-se acima de tudo. Veio dizer que não importa o que você usa na água, desde que você faça o que tiver vontade.

Um escrache, em forma de curta, ao status atual de mercado que tomou conta do que sempre foi, na verdade, radicalidade e atitude em essência.

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Na voz do próprio surfista, discordante e distante, que contrasta com a narração um tanto urgente e debochada, inspirada nas antigas locuções radiofônicas sensacionalistas; e com os berros apocalípticos apontando, de um lado, o culpado das dores do mundo, e de outro, uma “salvação para o mercado”, o que o surfista da monoquilha veio dizer é, basicamente, o seguinte: Cagar para as regras é libertador.